22 de fevereiro de 2009

A farsa dos mascarados ( Carnaval )

Arquivadas as euforias do final do ano, estamos muitos próximos de ver homens e mulheres vestirem seus corpos e suas almas com as fantasias do carnaval. Momento das ruas virarem efêmeras passarelas encantadas de mentiras e sonhos.

Hora de muitos corações solitários ávidos por descobrirem um novo amor, uma nova paixão, esconderem, também, suas dores, as emboscadas da vida, as traições do destino, as chagas incuráveis expostas em seus espíritos sofredores.

E, dessa maneira, o carnaval, tão antigo que quase conta a idade do próprio tempo, continuará pródigo em enganar a humanidade na sua caminhada de ilusões. Muitos viventes aproveitam esse pequeno espaço da vida para enganarem seus corações, burlarem suas incertezas, esconderem suas ânsias e encenarem nas ruas e nos salões enfeitados com as cores dos arco-íris, com seus sorrisos de quase palhaços, uma peça de teatro que possa tentar enganar a infelicidade de seus minutos apressados pelas marés vazantes de suas existências.

Mas é bom que seja assim, pois, se no cotidiano das nossas horas, nos defrontamos com tantas línguas que mentem, com tantos risos que escondem lágrimas e com tantas faces que usam a cada amanhecer suas máscaras visando evitar que descubramos a dura realidade de seus segredos mais íntimos, como poderíamos exigir que o carnaval com suas falsidades coloridas não seja a mentira de todas as promessas para quem precisa enganar a vida, a desesperança, os infortúnio dos seus segundos?

Sobre tantos rostos vincados de angústias serão tatuadas muitas máscaras que contam alegrias que não existem, sonhos que jamais foram sonhados, esperanças que desapareceram na poeira do tempo, da vida e que ficarão, até a chegada da quarta-feira de cinzas anestesiadas nos porões de muitas almas aflitas.

Se fossemos capazes, se tivéssemos a dom de penetrar no íntimo das pessoas, veríamos na realidade muito desespero no lugar de uma aparente serenidade, rios de lagrimas no lugar de um enganador oceano de felicidades, trevas no lugar do sol ardente, noites escuras e imensas no lugar da lua apaixonante. Veríamos um céu sem encantos no lugar do azul das estrelas.

Como não podemos acusar o que não é nos permitido ver, o que não podemos bisbilhotar no interior dos homens, é melhor que saibamos aceitar suas horas fantasiosas, suas ilusões, seus devaneios e que finjamos que não sabemos diferenciar os corações náufragos dos corações verdadeiramente felizes, audazes, que não precisam das mentiras coloridas do carnaval para alimentarem suas esperanças.

Deixemos, portanto, essa festa ruidosa enfeitar e pintar a vida de muitos que não podem revelar, na rotina dos dias, o tamanho dos seus infortúnios e que são proibidos de exibir para tantos olhos atentos o gigantismo das suas dores, a falsidade de suas vidas agitadas pela realidade que a lâmina afiada do desgosto riscou nas paredes das suas almas infelizes.

Autoria: Noélio A. de Mello
noeliomello@ig.com.br
www.noelio.com.br

Fonte: OverMundo

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